Crônica crônica

   Não há como passar por essa vida sem olhar atentamente para todo o caminho
percorrido. Aliás, a despeito de dizerem que vemos toda a nossa vida passar no momento em que nos despedimos dela, é bom nos anteciparmos e darmos uma grande olhada nesse filme do qual somos protagonistas, coadjuvantes e até mesmo figurantes. E foi nessa viagem que eu embarquei. E poxa! Quantas pessoas incríveis passaram pela minha vida! E o quanto eu me sinto grato por isso! Porque elas fizeram parte de um sonho que eu sonhei com elas, mesmo sem elas saberem... Elas fizeram parte das musicas que me lembram delas. Das paisagens que eu curti com elas. E cada uma com seu jeito, com o seu temperamento, com seu olhar do mundo, suas convicções políticas, seus sonhos, seus conflitos, suas dores, seus desejos, suas alegrias, suas tristezas, suas artes, seus bens e seus maus!  Todas parte dessa aventura tão breve que é a Vida!  Que beleza! Como é bom lembrar delas! E que saudades de todas elas! Ainda que pouco ou quase nada eu tenha significado para vida delas, na verdade isso pouco importa. Não guardo ressentimentos de nada! Mas sei que nem sempre acertei... Então peço perdão àquelas que se magoaram comigo ou àquelas de quem não fui tão amigo quanto deveria, àquelas que decepcionei... E peço esse perdão consternado e com o coração dolorido de remorso e arrependimento, porque é uma mágoa em dobro! Primeiro aquela que causei a outro e depois a que causei a mim mesmo de tamanha decepção comigo mesmo! E sei que algumas delas não estão nem mais nesse mundo...Se pudesse apagar tudo e começar de novo, eu o faria incansavelmente quantas vezes fosse necessário! 

   Eu posso dizer que nem sempre amei. E quando amei, não sabia exatamente que estava amando, até mesmo porque não sabia ao certo como era amar. Mas na certa fui entender melhor sobre amor depois de muito tempo, quando os cabelos brancos começaram a despontar. Mas Fernando Pessoa deu uma ajudinha: "O amor é uma companhia. Já não sei andar só pelos caminhos, porque já não posso andar só." 

   A  maior tristeza dessa vida é saber que muitas dessas pessoas se foram desse planeta, e que pelo menos nessa existência não há mais como encontra-las. E tem aquelas as quais jamais saberei se irei revê-las um dia. E ainda há aquelas cujo o paradeiro é desconhecido e não sobrou sequer um parente para tentar localiza-las. E por fim, há aquelas que passaram por um dia na minha vida, mas que simplesmente deixaram o melhor de si para sempre!

   Gostaria de falar aqui de cada uma delas, da forma como cada uma delas influenciou e influencia a minha vida e a tornou mais incrível, e isso inclui minha mãe, meu pai, irmãos, esposa e filhos! Mas não creio que seja dotado de tamanho talento literário para tal façanha. E ainda correria o risco de ser injusto, de provocar ciúmes, de ser extenso demais, de ser piegas demais, de ser chato ou de ser bobo demais...  

   Aliás, já imagino como vai ser a minha chegada lá no céu: aquele tapete vermelho, aquela multidão fazendo algazarra e me jogando confetes! E lá no altar um Velho de Barbas me aguardando com um objeto na mão. Quando chego perto vejo que o objeto é um troféu! E olhando mais de perto leio o que está escrito no troféu: "Idiota do Milênio"!! O velho de barbas sorri pra mim, me dá um abraço e me entrega o troféu, no que é seguido pela multidão com aplausos e woohoos e hurras!! E eu, caminhando pela praia, começo a rir dessa cena sozinho no calçadão passeando com o cachorro. Claro que os transeuntes acharam estranho, mas rir sozinho por aí já faz parte da minha rotina desde que descobri que vivia no planeta Terra! Então, vamos todos rir! 

   Admito que esse troféu seria bem merecido, pois a lista de idiotices que cometi ao longo dessa vida é bem extensa, e poderia ser tema de um novo post aqui nesse Blog com cerca de 600 páginas!

    Essa visão bem humorada da minha própria bobice, não me constrange ou me diminui nem um pouco! Mas sim, pode ser uma forma do mundo nos ver. E ver o que não entende! E aquilo que até hoje o mundo não entende, é o que eu chamo de Correr pra Vida. Despencar de onde você estiver sem nenhum interesse, só para estar perto, só para estar junto. Pra compartilhar de tudo! E ainda, correr para vida é entregar o seu melhor, querendo crer que o outro é bom e que vai sempre querer o seu bem, mesmo que a despeito de tudo o outro te afogue num poço de tristezas... 

   Mas claro, nem sempre correr pra vida é decepção! Porque a alegria de se doar não pode ser premiada com dor! Até porque é correndo pra vida que os céus se abrem pra gente!   

Eu não poderia deixar de incluir nessa crônica, os cachorros! Que cachorros incríveis e safados  fizeram e ainda fazem parte da minha vida! Eu penso: será que essa cachorrada toda vai voltar gente? Ou já voltou? Fico imaginando que tipos de pessoas seriam... Mas em contrapartida também penso: será que deveriam mesmo voltar como gente? Não bastaria só ter uma vida de cachorro? Sei não... como Deus organiza essa bagaça, mas se eles voltarem mesmo como gente, devem ser todos gente boa! Tem um que acredito que voltaria padeiro de tanto que gosta de pão! Mas não posso aqui me esquivar de também pedir perdão aos cachorros, porque com eles também errei e guardo tristeza no meu coração por esses erros. Mas nunca é tarde para reparar e fazer o certo, principalmente em se tratando de cachorros. Porque, segundo os mais profundos conhecimentos iniciáticos e esotéricos, os cachorros todos compartilham de uma mesma alma(1). E a experiencia de um é compartilhada com todos. Daí há sempre chance de se redimir com eles! Já com os humanos... Bem deixa pra lá! 

   Mas essa história não acaba aqui. Sei que o bom Velho de Barbas ainda reserva alguns capítulos pra mim e pra você que leu isso até agora! Que pessoas fantásticas estão chegando por ai! Pra mudar tudo! Quem sabe meus netos, seus netos, seus filhos? Certamente pessoas incríveis ainda vamos conhecer nessa Vida?! E cachorros...E cavalos! E quem sabe Burros?...

  É verdade que isso parece ingênuo, que parece utópico, mas é esperança! É o refúgio da esperança!

Por Mauricio Azevedo 

(1) O lado oculto das Coisas , escrito por Charles Webster Leadbeater e lançado em 1913.

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