O Paradoxo do Tempo

Vir a Tijuca é como voltar ao útero da minha mãe. É como uma viajem no tempo nem sempre agradável, nem sempre feliz. Nesses tempos difíceis é como se eu pudesse encontrar com ela e ouvir doces palavras de encorajamento: vai meu filho seja forte! Você vai vencer! Gostaria de poder me confessar para minha mãe...pois só ela veria minhas fraquezas com olhar de compaixão. E me diria: levante a cabeça e tente acertar agora! Você vai conseguir!

Voltar a Tijuca é sempre uma viajem no tempo, aos primórdios da infância, aos conflitos da adolescência! Mas nem sempre alegre, nem sempre feliz... Pela janela do ônibus vejo casas antigas com as janelas obturadas com tijolos. Casas obturadas são como pessoas com olhos vendados e bocas amarradas. Memorias inertes de famílias inteiras que outrora lá viviam pairam por lá aprisionadas... Posso ouvir as risadas e os lamentos. As alegrias e as tristezas de quem ficou para trás. Sim porque na verdade aqueles que ainda sobrevivem ficaram para trás...

Quando eu volto a Tijuca só encontro memórias... Busco em vão o calor das mãos de minha mãe, mas só vejo casas e pessoas obturadas. As gerações se sucedem e as pessoas correm de um lado para o outro com seus smartphones em punho em busca não sei do quê. O aconchego do abraço se perdeu em algum lugar...
Vir a Tijuca é viver o meu próprio paradoxo do tempo. Para aqueles que não sabem onde fica ou não conhecem a Tijuca, pouco importa. Mas saibam que para cada um há um ponto de partida, um lugar onde pairam as memórias, onde largamos espalhadas as emoções e os sonhos mais primordiais de nossa existência.
Me perdoem a angústia, mas é quase impossível retê-la! Me perdoem a franqueza, mas pobre desse mundo sem o calor do Amor!

Por Mauricio Azevedo


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